sexta-feira, 1 de abril de 2016

Os códigos das montadoras... Ahhhhhh, os desafios feitos pelos leitores e amigos... Quebrando paradigmas quanto às normas MB 236.10, MB 236.12 e MB 236.14.

Boa noite, meus queridos amigos/leitores!

Recebi uma mensagem, no fórum do site 4x4 Brasil, em que um amigo, leitor deste blog, me alertava para a necessidade de mudança do óleo utilizado na caixa automática do meu carro, um Ssangyong Kyron GLS 2.0 turbodiesel, equipada com câmbio automático de 5 marchas.
Eu, no fórum do site mencionado, deixei claro que fizera a troca do fluido da transmissão automática do Ssangyong em função de ter adquirido o carro zero quilômetro em 2015, mas o veículo ser ano/modelo 2011/2012.
E, também, em função de eu ter mencionado que o fluido, que fora utilizado, tinha sido o DEXRON VI.
Mas, afinal de contas, qual foi o porquê do amigo/leitor ter feito o alerta?
Mais uma vez, meus amigos, volto a dizer uma coisa para todos vocês: Muito cuidado com os códigos das montadoras! Montadoras são definidas como "empresárias", na moderna definição do Código Comercial Brasileiro, e, em função disso, miram lucros gordos... Quanto maiores, melhor!
Meu carro, graças ao bom Deus, é equipado com a chamada "5G-Tronic automatic transmission", fabricada por, nada mais nada menos, que a "senhora" Mercedes-Benz Deutschlands...
Esta transmissão é conhecida também pelo código MB 722.6, no qual o "MB" se refere, obviamente, à Mercedes-Benz.
É uma transmissão muito robusta, eis que muitos modelos top da Mercedes-Benz continuam a usar a mesma. Tal afirmação diz respeito à capacidade de suportar um torque de até 796 lb-ft, ao passo que as modernas "7G-tronic", de sete marchas, dos Mercedes mais novos, suportam só (!!!) 542 lb-ft.
É, de longe, a transmissão menos problemática dos veículos da linha Ssangyong.
Foi utilizada em vários modelos da Chrysler (300 C, Durango, Challenger, Grand Cherokke), à época que a Daimler, grupo que detém a marca Mercedes-Benz, controlava a marca norte-americana, mas a transmissão era, então, denominada NAG1 ou NAT1.
Os Ssangyong Actyon Sports, que utilizavam uma transmissão de 6 marchas, da marca Drivetrain Systems International (DSI) - marca que, por acaso, hoje pertence à chinesa Geely -, receberam, em 2014, a transmissão dos Kyron, de 5 marchas, de origem alemã.
A tal MB 722.6 ou "5G-Tronic".
A explicação para o aparente downgrade no número de marchas foi o seguinte: adotar uma transmissão que não apresentasse falhas e fosse, notadamente, mais confiável e de manutenção mais simples.
Calma aí? Manutenção mais simples? Em uma transmissão de origem Mercedes-Benz?
Pois é, pessoal, a tal "5G-Tronic" não parece, até os dias de hoje, uma transmissão de manutenção simples. Mas, na prática, é! Equipada com cárter, na sua porção inferior, permite manutenção mais ampla e sem a necessidade de ser retirada do veículo ou desmontada por completo.
Retirado o cárter da caixa de marchas, pode-se trocar o filtro de óleo da mesma em poucos minutos...
Muito bom!
Mas é na especificação do fluido hidráulico utilizado que começam os problemas.
A Mercedes-Benz afirma que, para transmissões MB 722.6, o fluido ou óleo hidráulico utilizado deve  atender às especificações MB 236.10 ou superior, até MB 236.14...
E aí? O que quer dizer isso?
Posso usar mesmo o tal fluido DEXRON VI nesta "5G-Tronic"?
Pode!
E vou dizer o porquê?
Os fluidos indicados para as "5G-Tronic" são listados nestes três links, inseridos abaixo:




Pois bem, fui logo conferir quais lubrificante seriam aptos a atender à caixa da minha Kyron, com a eficiência e garantia necessárias à utilização longa e prazerosa do veículo e, de cara, me deparei com algumas marcas de fluidos bem conhecidas.
Era um tal de Mobil, Valvoline, Fuchs, Tutela, Motul, Ravenol e Total da vida, que procurei saber qual era o grande diferencial desses produtos, identificados, muitas vezes, pelo código MB 236.14.
Para mim, era óbvio que, a exemplo do que o grupo PSA (Citroen/Peugeot) fizera com os proprietários de veículos equipados com transmissão AL4, a Mercedes-Benz criara uma espécie de "reserva de mercado" para fluidos identificados pelas suas siglas, dentro da qual poderia vender muito caro aquilo que podia ser comprado barato pelo consumidor.
De fato, o único significado para as siglas adotadas pela Mercedes-Benz, ao meu ver, era o seguinte: "Estes produtos foram aprovados e homologados por nós!"
Para quem duvida do que digo, veja post anterior deste blog, dentro do qual deixo clara a possibilidade de abandonar os fluidos LT71141 e Pentosin, nas transmissões automáticas dos veículos Citroen/Peugeot, em nome da utilização de fluidos mais modernos e baratos, classificados como DEXRON VI.
Mas... E a "5G-Tronic"? Como ficaria a questão da escolha do fluido?
Só serviam mesmo os fluidos com MB 236.10, MB 236.12 e MB 236.14 lançados nas embalagens?
Em comum, observei que os índices de viscosidade desses fluidos estavam, sempre, na faixa compreendida entre 180 e 185, e que as viscosidades cinemáticas, nas temperaturas de 40ºC e 100ºC eram, normalmente, de 35 cSt e de 7 cSt, respectivamente.
Valores que, na maioria dos casos, eram puco mais altos que os encontrados no fluido produzido pela AC Delco e Havoline, dentro da classificação DEXRON VI.
A Mercdes-Benz atribuía, às normas MB 236.10, MB 236.12 e MB 236.14, as seguintes características: Maior eficiência para redução do consumo de combustível e maior estabilidade quanto ao coeficiente de fricção.
Eram dados comuns para os fluidos assim classificados.
Mas continuei a pesquisar... Aquilo ali não era suficiente para me convencer que tinha de optar por fluidos caros e que não teriam qualquer diferencial no que concerne a um bom e barato DEXRON VI.
A alemã Febi Bilstein, cuja embalagem de fluido ATF é a imagem inaugural deste post, listava um dos seus produtos, classificado como fluido 22806, como um "Fluido Universal" e, que em razão disso, usava a denominação "Recommended Applications MB 236.1, 236.6, 236.7. 236.9, 236.10".
Espera aí! No meio dessas classificações, tinha muito óleo, de muito fabricante famoso, classificado como DEXRON III!
O fluido da Febi, aliás, era um produto classificado como DEXRON III/DEXRON III-H...



Ora, ora! Se um fluido qualquer, com classificação DEXRON VI, substituía com vantagens várias todas as classificações anteriores DEXRON III (incluido, aí, a DEXRON III-H), como as classificações MB 236.10, MB 236.12 e MB 236.14 podiam afirmar, categoricamente, que os fluidos DEXRON VI não serviriam nas transmissões MB 722.6?
Enfim, continuei com a pesquisa!
Não estava satisfeito com estas primeiras conclusões...
Era um tal de ouvir, de "mexânicos" oficiais, que "fluidos que não observem às especificações MB vão detonar com as placas eletrônicas internas das caixas de marcha 722.6", que resolvi seguir em frente e desmistificar a classificação "Golden cock of galaxies" (desculpem o vocabulário, mas a tradução para o que acabei de escrever é "Pica das Galáxias"...) da Mercedes-Benz.
Eu queria, à época que adquiri o Ssangyong Kyron, mudar todo o óleo da transmissão, mas queria algo bom e barato, com eficiência garantida na ransmissão de 5 marchas. Eu não queria gastar os tubos apenas para dizer que "está tudo original, conforme quer a Ssangyong ou a Mercedes-Benz".
Sempre desconfiei de classificações específicas de fabricantes, eis que os valores cobrados pelos produtos que se enquadravam nas tais "normas dos fabricantes" tinham sempre um valor absurdamente alto, se comparado a similares ou, até mesmo, acaso confrontados a si mesmos, só que quando expostos no mercado de reposição, e desprovidos do selo de originalidade.
Fui verificar, então, a opção de muitos proprietários de Mercedes-Benz no exterior, que estavam utilizando, com sucesso, o fluido ATF MaxLife, da Valvoline, que atende às transmissões NAG1, da Chrysler.
Mas, espera aí! A transmissão NAG1 da Chrysler não era e é exatamente a definição da transmissão MB 722.6, quando utilizada nos veículos da marca norte-americana?
Sim, isso mesmo!
E, curiosamente, o MaxLife, da Valvoline é um fluido que atende às especificações DEXRON VI, com viscosidades cinemáticas, aos 40ºC e aos 100ºC, muito parecidas com a do fluido DEXRON VI da AC Delco, vendido a um bom preço no Brasil. E uma coisa para mim já era certeza fazia muito tempo: para um fluido atender, simultaneamente DEXRON II, III e VI, bastava ele ser DEXRON VI...
O índice de viscosidade do MaxLife é de, aproximadamente, 156, contra os, em média, 180/185, dos fluidos MB 236.10, MB 236.12 e MB 236.14... 
Como pode o Valvoline MaxLife ser indicado para uma transmissão MB 722.6, quando utilizada em um veículo Chrysler, quando não está especificado que deveria atender também às normas da Mercedes-Benz?
Perceba uma coisa, leitor/amigo: Tem coisa aí!
Eu já sabia, àquela altura, de uma coisa: posso utilizar o MaxLife na transmissão da minha Kyron.
Não estava mais preso à lista fechada da Mercedes-Benz.
Oba!
Uma outra observação que fiz foi com relação à utilização dos fluidos do tipo ATF+4 nos veículos Grand Cherokee (entre os anos de 2002 e 2012), Dodge Durango, Challenger e Crossfire, da Chrysler americana, e que utilizavam as transmissões da Mercedes-Benz 722.6. 
Aparentemente, os fluidos ATF+4 são, na verdade, fluidos DEXRON III, mas com pequenas diferenças nos aditivos modificadores de fricção e incrementos na estabilidade térmica.
Realmente, as siglas MB 236.10, MB 236.12 e 236.14 estavam começando a fazer, cada vez mais, menos sentido para mim...
Mais uma evidência de que as siglas MB 236.10 e MB 236.12 queriam, na verdade, apenas esconder as conhecidas classificações DEXRON III - G e DEXRON III-H veio em um anúncio, feito por um site dedicado à comercialização de peças para veículos da Mercedes-Benz, dentro do qual o fluido de transmissão, que atendia às especificações de fábrica para a transmissão 722.6, era um mero DEXRON III, conforme demonstra o link abaixo:


Para mim, era chegada a hora de desmistificar as siglas apregoadas pela montadora alemã.
A caixa de câmbio da minha Kyron, recém comprada, mesmo com apenas 300 quilômetros rodados no hodômetro, já tinha um fluido vencido, que estava a mais de quatro anos ali, de modo que eu precisava sanar logo minhas dúvidas e fazer a substituição do óleo e do filtro da caixa de marcha.
O código, contido na embalagem do fluido ofertado no site supramencionado, se referia expressamente à norma MB 236.14, que é a mais recente para a aplicação de fluidos nas transmissões MB 772.6.
Basta pesquisar, na internet, pelo código A 001 989 68 03 10 - que é o utilizado pela Mercedes-Benz para definir a peça de reposição original -  e verificar que o mesmo diz respeito à norma MB 236.14 e, diretamente, ao tal fluido DEXRON III-G/DEXRON-H ofertado...
Bom, naquele momento eu já sabia que a norma MB 236.14, a mais recente para as transmissões MB 722.6, se referia, na verdade, a fluidos classificados como DEXRON III-G ou DEXRON III-H.
Olhem só, leitores! Vejam como a coisa evoluiu desde o início deste post!
Assim, eu já podia ficar mais tranquilo quanto à utilização de um fluido mais moderno, de classificação DEXRON VI na minha Kyron GLS novinha.
E foi o que fiz!
Em uma tarde de sol de um sábado, do mês de julho de 2015, retirei o cárter da caixa de marcha da Ssangyong, já com uma caixa cheia de fluidos de classificação DEXRON VI, um filtro de óleo novinho em folha e uma junta nova, do cárter da caixa, ao meu lado, e fiz a substiuição do óleo in totum.
Até hoje, dia 1º de abril de 2016, após mais de 13.000 quilômetros rodados, minha "5G-Tronic" funciona perfeitamente, com suavidade e silêncio nas trocas de marcha. E não estou me valendo do chamado "Dia da mentira", OK!
Isto, graças ao uso de um fluido muito superior ao prescrito pela Mercedes-Benz.
E bem mais barato também!
A pesquisa faz bem para a mente e, de quebra, nos faz economizar muito ($$$)! A única coisa que não quero economizar é o meu raciocínio!!!
E vamos que vamos, com mais este post!

Um abraço a todos,
Xamã do Brasil.