quinta-feira, 12 de novembro de 2015

DOT 3? DOT 4? DOT 5? Ou DOT 5.1? Qual fluido de freio devo usar?

Muito bom dia, meus amigos!

Escrevo sobre fluidos de freio em meio à madrugada, ao som de Lynyrd Skynyrd...
Lembrei-me de um dia em que, vagando por entre lojas de autopeças, atrás de um frasco de água realmente desmineralizada - há muitas marcas que não vendem água deionizada de verdade, mas água de torneira, infelizmente... - para o radiador de meu carro, me deparei com uma embalagem de fluido de freio DOT 5 exposta em uma prateleira.
Perguntei para um senhor de idade, aparentemente dono da loja de autopeças, se aquele fluido estava realmente sendo comercializado para automóveis.
Meio que estupefato, o senhor me disse que sim. Perguntou-me o porquê do questionamento.
Achei, então, que era importante alertar o comerciante para o fato do fluido de freio DOT 5 ser formulado com um percentual maior de silicone, razão pela qual apresenta compressibilidade maior e, por isso, exige maior esforço para a frenagem de automóveis, motos, picapes e caminhões.
Em termos mais claros para o leitor, o tal fluido exige que se pise mais no pedal do freio para que o carro pare, o que pode ser muito perigoso em algumas situações.
Lembro-me até hoje que disse ao senhor que era melhor devolver aquele produto para o fabricante e solicitar, em troca, o envio de uma carga de fluidos de freio 5.1, que é, sem sombra de dúvidas, mais adequado à utilização em veículos automotores.
Do nada, ouvi um palavrão e o homem me mandou sair da loja. 
Foi extremamente ignorante...
Chegou ao ponto de ser desrespeitoso, mas me retirei e segui adiante na tarefa inicialmente colimada.
Comprei minhas caixas de frascos de meio litro de água desmineralizada de verdade e, também, dois litros de um bom fluido orgânico para o radiador do meu carro e voltei para casa, para lavar o sistema de refrigeração com o capricho que o mesmo sempre mereceu.
Meses depois, de novo eu me encontrava rondando as lojas de autopeças do "Ponto Cem Réis", local conhecido pela diversidade de estabelecimentos deste tipo no antigo bairro do Fonseca, na cidade de Niterói, Estado do Rio de Janeiro, quando vislumbro, em uma certa loja, em uma certa prateleira, um monte de frascos de fluidos de freio DOT 5 em exposição.
Estava tudo lá. Da mesma forma que estavam meses antes...
Minha mulher estava ao meu lado. Pedi a mesma que fosse ao balcão da loja e perguntasse, ao senhor que estava atendendo às pessoas, se aquele fluido de freio era bom para carros e picapes e se atendia à classificação mais moderna, do tipo 5.1.
E assim foi feito.
De longe, ao lado da porta da loja, ouvi o senhor de idade dizer o seguinte: "Moça, este é o melhor fluido sim! Este aqui é o mais moderno e não tem esse negócio de 5.1 não! É tudo igual! DOT 4 e DOT 5 é tudo a mesma coisa! Vendo pra senhora este aqui por coisa de R$ 10,00, meio litro... E aí? Vai levar?"
Minha mulher disse que não, sem explicar o porquê. Disse ao homem um "muito obrigado" e deixou a loja.
Não sou chegado a vinganças... Além de inúteis, frente às leis que regem magistralmente este universo nosso, tem o condão de fazer nascerem sentimentos muito ordinários, dos quais o mundo realmente não precisa de cota extra.
Mas entendi, lá no íntimo da alma, o porquê do preço mais baixo e, principalmente, a razão pela qual os fluidos não saiam da prateleira empoeirada, pintada de cinza...
Meus amigos, fluido de freio é coisa séria.
A primeira regra a seguir é a seguinte: Se o manual do proprietário/manual de instruções do carro diz que o fluido ideal é o DOT 3, o caro leitor do blog pode usar tranquilamente os fluidos com as classificações DOT 3, DOT 4 e DOT 5.1.
São todos fluidos cuja composição é o polietilenoglicol... E esta composição é a preferida das montadoras de veículos sediadas em solo brasileiro.
DOT 5, como eu já disse, haja vista a composição tendo como base o silicone, não deve ser utilizado, OK!?!
Apenas se o manual do automóvel explicitar que o fluido de freio é o DOT 5, este é o que deverá ser utilizado.
Mas isto é raro quando falamos de automóveis fabricados no Brasil.
Nos casos específicos, o próprio projeto do sistema de freios levará em conta a diferença de compressibilidade do supramencionado tipo de fluido e sua utilização deverá ser a preferida. Além disso, o fato da base desse fluido ser o silicone hidrófobo, o faz não higroscópico e menos prejudicial, corrosivo, portanto, às peças em contato direto com o produto.
Mas o que é "higroscópico" mesmo?
Fora o fato de ser um adjetivo, é o fato dos fluidos de freio convencionais, baseados normalmente no polímero polietilenoglicol (C2nH4n+2On+1), terem a característica de absorverem água presente na atmosfera e, com isso, gradativamente, perderem suas características físico químicas.
Pois é, com o tempo, os fluidos DOT 3, DOT 4 e DOT 5.1 estragam e levam, junto, peças importantes do sistema que compõem.
Desta forma, se o fluido DOT 5 tem o problema de exigir mais esforço, mais pressão no pedal, para fazer o automóvel parar, há que se dizer que o referido fluido é muito mais durável e "amigável" para o sistema, como um todo, que os fluidos DOT3, DOT4 e DOT 5.1 que conhecemos... Ele simplesmente repele a umidade que, nos fluidos de classificação DOT3, DOT4 e DOT 5.1, é absorvida da atmosfera.
Mas, voltando ao assunto, vamos à regra geral dos fluidos de freio:
Se no manual consta que o fluido adequado é o DOT 4, não se pode utilizar o DOT 3, pois as classificações menores não são compatíveis, ou melhor, não atendem às exigências dos sistemas de freios dimensionados para fluidos de classificações maiores.
O número, logo após as letras "D", "O" e "T", assim, indica o grau de evolução dos fluidos de freio. Já há fluidos de freio, inclusive, que apresentam a classificação DOT 6...
E esta evolução se dá de que forma?
Bem, a composição química dos fluidos de freio tende a se tornar cada vez menos agressiva para o meio em que atua, ou seja, para o sistema de freio do veículo e para os cilindros de atuadores de embreagem, eis que normalmente sistemas de freio e de embreagem compartilham o mesmo fluido.
Além disso, há a questão da temperatura de ebulição.
Um fluido de freio DOT 3 entra em ebulição a coisa de 205 graus Celsius.
Um fluido de freio DOT 4 entra em ebulição por volta dos 230 graus...
Já um DOT 5.1, só entra em ebulição lá pelos 260/270 graus Celsius.
Garanto ao leitor deste blog que o calor gerado pelas pastilhas de freio, em atrito com o disco de freio do carro, em uma descida de uns 20 quilômetros de extensão, faz estes dados que citei terem enorme importância quando o assunto é segurança.
Isto porque o fluido de freio é que é responsável pelo acionamento dos freios do carro, nas quatro rodas do mesmo, e aquece juntamente com os demais componentes do sistema de frenagem, alcançando, em razão disso, altas temperaturas.
Será que ficou claro para os leitores o que quero dizer?
Será que ficou didático?
Vou dividir, a exemplo do que fiz quando comecei a falar das transmissões automáticas, o assunto em mais tópicos, para não ficar chato.
Neste primeiro papo nosso, vou deixar claro para os amigos o seguinte: Quando for trocar o fluido de freio do carro, da moto, da picape e/ou do caminhão, opte sempre pela classificação maior. Se não achar o fluido de freio DOT 5.1 e o manual do proprietário especificar o DOT 4, use o DOT 4 sem medo, pois atenderá às necessidades e especificidades do sistema de frenagem.
Aí, o leitor perguntará: Mas tem de trocar o fluido de freio também?
Sim! E se deve observar a composição química dos fluidos utilizados. Se a base for o polímero polietilenoglicol, esta composição deve ser mantida. Se a base química for o silicone hidrófobo, a opção deverá recair sobre este último.
E este será o nosso papo para minha próxima postagem, quando voltarei também a falar sobre transmissões automáticas. 
Sobre a foto que postei, deixo às claras que não tenho preferência por marca "X" ou "Y". Tampouco sou patrocinado por alguma das marcas existentes no mercado. 
Utilizei apenas a foto melhor que encontrei.
Logo, logo, posto mais!
Um excelente dia para todos. Fiquem com Deus!

Xamã do Brasil

2 comentários:

  1. Muito didático e demonstração de conhecimento técnico.

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  2. Eu ja passei por vezes em situacoes parecidas... a maioria das pessoas nao esta disposta a aprender. vivem supondo...

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